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Blog de Tabatinga

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#Tabatinga-AM - 12/06/2014, 32 anos do acidente aeronáutico da TABA

Por: Luiz Gonzaga Ataíde

 

Vários acontecimentos marcam a vida e a história de uma cidade, os quais de uma maneira ou de outra, contribuem na evolução de seus cidadãos; fatores que nos ajudam a compreender, refletir, analisar e procurar alternativas conciliáveis com nossas falhas, em relação ao bem estar de nossos semelhantes, que muitas vezes dependem de nosso senso de responsabilidade, até para prevenir o dom mais precioso que o Criador nos concede, que é a vida, a qual muitas vezes não sabemos usufruir dignamente desta dádiva que recebemos, somente descobrindo seu valor quando somos acometidos por provações dolorosas durante nossa existência, ou quando testemunhamos tragédias fatais, como o acidente aéreo ocorrido em Tabatinga no dia 12 de junho de 1982, é que sentimos o quanto fomos frágeis perante a natureza, e que nada vale nosso orgulho, arrogância, egoísmo, depois de constatarmos através de nossos semelhantes,com seus corpos inertes, mutilados e sem vida, é que descemos de nosso pedestal imaginário e refletimos sobre nossa efêmera existência. Mas o que acontecia em Tabatinga naqueles dias?

 

Pela Emenda Constitucional nº 12 de 10 de dezembro de 1981, à Constituição do Estado do Amazonas, por iniciativa do Governador José Lindoso, Tabatinga passara a ser Município. No ano seguinte de 1982, novas perspectivas alvissareiras despontam no horizonte do recém criado município; com a abertura política iniciada pelo presidente e General João Baptista de Oliveira Figueiredo, o Amazonas se preparava para retornar à democracia com as candidaturas de Gilberto Mestrinho pelo PMDB e Josué Filho pelo PDS. Tabatinga se preparava para sua primeira eleição, fundando seu primeiro partido político, convenção partidária e escolha de seus candidatos a Vereadores para a Câmara Municipal. Ainda naquele de ano 1982, no dia 3 de junho, recebíamos a comitiva governamental composta pelo Governador Paulo Pinto Néry, acompanhado do Ministro das Comunicações Haroldo Corrêa de Matos, que se deslocam desde Manaus num avião Búfalo da FAB, para inaugurarem a estação terrena para comunicações por satélite da EMBRATEL, melhorando as comunicações telefônicas e o melhor de tudo, poderíamos assistir pela primeira vez diretamente a transmissão da Copa do Mundo de 1982, realizada na Espanha, com nossa seleção composta por craques de bola como Zico, Careca, Falcão, Sócrates e tantos outros, comandados por Telê Santana. Naquele ano, depois de 6 anos representando o Poder Judiciário, deixava Tabatinga o Dr. Clovis Albuquerque da Mata, nosso Juiz de Direito.Os libaneses instalavam suas lojas de confecções e calçados na Rua Marechal Mallet. Era lançada a pedra fundamental para construção da Igreja Matriz. O Coronel José Tancredi recebia o Comando do CFSol/1º BEF. O povo enfeitava suas casas e ruas com bandeirolas verdes e amarelas, era Copa do Mundo, e o Brasil era franco favorito ao título.

 

Naquele clima de Copa do Mundo e festas juninas, era o dia 12 de junho, véspera do dia de Santo Antônio, aquele dia amanheceu nublado, era uma cerração intensa, por volta das 6:30h. da manhã, faltou energia na cidade, em poucos minutos também ouviu-se para o lado do aeroporto a soada de um avião que sobrevoava querendo pousar e não divisava a pista de pouso; como não havia energia na cidade e nem a Infraero dispunha naquele momento de gerador de energia para suprir uma emergência e com pouco combustível, conforme depois ficou comprovado, o piloto fazia manobras rasantes tentando pousar a aeronave, numa dessas manobras bateu com uma das asas na torre que se localizava nas proximidades das instalações aeroportuárias, girando, caindo, se espatifando no solo e explodindo. Eram 7:00 h. daquela manhã, quando toda a cidade ouviu aquele enorme estrondo, em poucos minutos todos sabiam que o avião da Companhia Aérea TABA, modelo Hirondelle que vinha de Eirunepé com escala em Tabatinga, tinha caído perto do terminal de passageiros do aeroporto. Todos rumaram ao local, o Exército isolou a área, os bombeiros de Letícia não demoraram, o Hospital de Guarnição de Tabatinga prestava apoio com sua equipe, assim como a Cruz Vermelha. O quadro era tétrico, desolador e triste, era pedaço de avião pra todos os lados, os motores jogados distantes do local do acidente, com paciência e muito trabalho aos poucos eram retirados pedaços de gente, corpos carbonizados, mutilados, ora uma perna ora um braço, corpos de adultos e crianças, uns inteiros, mas com algum membro dilacerado pelo impacto com o chão e pelas ferragens e assim por diante. Não havia sobreviventes. Todos os 44 passageiros incluindo seus tripulantes com o comandante Manuel Teixeira Estanqueiro, não sobreviveram. A tragédia enlutou Tabatinga pelo fato ocorrido, mas também por perdermos alguns conhecidos nossos. Os restos mortais dos acidentados foram transladados para Manaus e de lá para seus lugares de origens, para um digno enterro.

 

Os trabalhos do inquérito instaurado pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aéreos, órgão ligado ao Estado-Maior do Ministério da Aeronáutica, concluiu que não foi decisão do piloto em antecipar o horário de voo e encontrar o aeroporto de Tabatinga fechado, mas sim da própria empresa, por algum funcionário que se enganou ao calcular erradamente a diferença de horários.

 

Ao registrarmos tanto tempo depois daquele fatídico acidente aéreo, que deixou tantas famílias enlutadas, verificamos as transformações realizadas em nosso aeroporto, desde que foi assumida sua administração pela INFRAERO em 31 de março de 1980, em que foi seu primeiro Superintendente, o Senhor Orlando Ferreira Cruz, iniciando a melhoria da segurança aérea, as estruturas são evidenciadas no treinamento de pessoal, corpo de bombeiros, novas instalações, instrumentos e equipamentos modernos para auxiliar aeronaves com seus tripulantes, a executarem seus trabalhos aeronáuticos com segurança e precisão, para que acidentes fatais como o ocorrido nunca mais se repita. Só nos resta esperar que algum dia, a INFRAERO se lembre e possa erguer um Memorial no local do acidente, contendo o nome de todos que ali perderam suas preciosas vidas, como uma eterna lembrança aos familiares dos desaparecidos, que ainda hoje choram suas perdas.

 

*Historiador de Tabatinga (AM).

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